Rafael Pallarés: Leituras de Tempos de Covid

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O próximo livro na minha lista é The Metaverse, do Matthew Ball, um  teórico do assunto que mostra como a internet deixa de ser algo que está ao nosso alcance para se tornar algo no qual estaremos imersos. Em uma prévia, já ouvi a entrevista do autor no podcast do Scott Galloway, onde ele antecipa um futuro onde nossa vida, trabalho e lazer vão acontecer dentro do Metaverso.

Metaverse vem na sequência de um spree de leitura, coincidindo com o começo da pandemia, quando consolidei o hábito de escutar os livros. Com a redução das interações sociais sobrou um pouco mais de tempo para a leitura – ou a ouvidoria melhor dizendo – e como o áudio traz a leitura para novos momentos, subi minha média para dois livros por mês. Tenho a assinatura de um serviço que dá acesso por aqui – IPs do Brasil – a tudo – ou quase – o que está sendo lançado. Meu consumo passa por história, romance, biografias e ciências, mas vou dividir aqui as leituras no cruzamento das áreas de mídia, publicidade e digital economy – consideradas amplamente -, como uma forma de dividir o que descobri de bom nesses últimos 30 meses e convidar os leitores do Innovation Insider a também compartilharem suas preferências e dicas.

O primeiro da série foi lido em papel, e é um dos meus preferidos e um must para quem quer ter uma opinião sobre o assunto, o Superintelligence, do Nick Bostrom. É uma referência na área, que vi citado em vários outros livros que abordam o tema, e explora não apenas a IA, mas as diferentes formas de superinteligência, os caminhos para chegar a ela e as questões éticas e morais envolvendo o futuro convívio da humanidade com uma inteligência superior a nossa, onde nós seremos os chimpanzés. Disclaimer: tem partes mais densas de matemática.

Não se fala em mídia e publicidade hoje sem falar de Netflix, e o No Rules Rules do Reed Hastings traz um ótimo ponto de vista para uma empresa que revolucionou o entretenimento usando princípios contra-intuitivos de gestão, baseados em uma cultura radical de liberdade e responsabilidade.

Ainda na área dos super CEOs, o After Steve conta a história da Apple pós Steve Jobs, com Tim Cook pegando o bastão e conduzindo o crescimento da empresa até os dias de hoje. O livro explora o contraste de estilos de Tim e Jony Ive, o Chief Design Officer responsável por produtos icônicos como o iPod, MacBook Air e o iPhone, e os acertos da Apple em uma trajetória que a levou a um valuation de $2 trilhões.

E quem não tem interesse em saber mais sobre como startar e escalar negócios, seja uma empresa ou um novo empreendimento dentro de uma operação maior? Reid Hoffman, célebre pelo podcast Masters of Scale, traz os segredos e as histórias de bastidor das empresas que aceleraram de um a um bilhão com a potência de um Tesla.

Delicioso de ler, o Range, do David Epstein, constrói uma tese fenomenal mostrando que ao contrário do senso comum, a especialização e o treino abnegado em uma área específica não leva às melhores performances, nem nos esportes, nem nas artes, nem na carreira executiva. O range, ou a amplitude de experiências e conhecimento em campos diversos fazem dos generalistas – que muitas vezes demoram mais para encontrar o seu caminho – pessoas mais criativas e capazes de encontrar soluções inovadoras através de conexões não óbvias. Take away maravilhoso do livro: aqueles que abandonam projetos e fazem mudanças de rota acabam tendo carreiras mais bem-sucedidas e satisfatórias.

Ele, Elon, não dá pra deixar de fora repertório, e para entender melhor como funciona esse personagem genial, às vezes controverso também, conferir a biografia, Elon Musk, de 2015, e Liftoff, de 2021, que detalha a saga da SpaceX. Não precisa rezar pela cartilha dele, mas tem muita coisa pra tirar das histórias de alguém com tal currículo. Pode até ter um pouco de sorte também. Se aquele teste, em setembro de 2008, tivesse falhado como os três anteriores, talvez hoje não houvesse nem Tesla, nem SpaceX, e muito menos os foguetes reutilizáveis pousando verticalmente  como em filmes de ficção, mas o fato é que o foguete subiu.

Completando a lista, gostei muito do Noise, do Daniel Kahneman, de quem já sou freguês. Ele separa o “ruído” do “viés” nos julgamentos, e nos ensina a conhecermos as falhas às quais estamos sujeitos ao tomar decisões. No The Contrarian, Max Chafkin percorre a biografia de Peter Thiel, um dos investidores e empreendedores mais influentes dos Estados Unidos, e cuja trajetória cruza com a de Elon na PayPal. Thiel é um dos principais personagens que moldaram o que associamos com Vale do Silício, e entrar na sua mente ajuda a entender um pouco as motivações e os valores que movem as marés nas áreas da tecnologia, dos negócios e da política. Também lançado em 2021, Amazon Unbound refaz a trajetória da empresa com detalhe jornalístico, mostrando a sua transformação durante a jornada até um valuation de dois trilhões de dólares e a saga de Jeff Bezos ao longo do processo. Future Proof, finalmente, escrito pelo jornalista de tecnologia do NYT Kevin Roose, traz uma perspectiva inspirada e otimista sobre o papel – e a importância – das pessoas em uma sociedade dominada pela IA e pela automação. De certa forma, faz um contraponto ao pensamento de Yuval Harari, que prevê um futuro onde o Dataismo se tornará a nova religião e onde os seres humanos se tornarão dispensáveis.

Com essa dieta, mais três doses de vacina e um episódio de Covid ao longo desses meses, me sinto com o corpo e a mente imunizados e cheio de entusiasmo para desbravar o que o admirável mundo da tecnologia e dos negócios nos traz. Que venha o Metaverso!

*Rafael Pallarés é publicitário com uma carreira internacional na área de marketing digital, atuando também como Investidor Anjo em startups.

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