A Internet contribui para nações menos democráticas?

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Joe Mandese, editor chefe do Media Post publicou semana passada artigo curioso – ou assustador, quem sabe – sobre uma relação que ele mesmo tratou de fazer diante de duas estatísticas que cruzou. Uma mostra o avanço da internet. Outra mostra o declínio de países vivendo sob um regime considerado democrático. Veja abaixo os dois charts que intrigaram Mandese.

 

Essa correlação pode parecer indiscutível, se assim colocada, mas não é. O próprio Mandese toma cuidado para traçar uma relação de causa/efeito direta entre uma coisa e outra. 

Vejamos porque não é tão óbvio assim e porque, mesmo assim, ele tem um ponto a considerarmos.

Não é óbvio porque há também exemplos em não é tão óbvio porque a difusão de conhecimento e abertura de discussões políticas promovidas pela expansão da internet foram e continuam sendo vitais e indiscutíveis na democratização de consciência de populações, muitas oprimidas, mundo afora. 

Vimos e seguimos vendo exemplos de expansão democrática promovida exatamente pela onipresença e o caráter difusor global que a internet detém.

Por outro lado, há igualmente, sem dúvida, movimentos de influenciamento e controle via internet, seja através de redes sociais, seja de outras instância de difusão de informações online, por quistos de poder centralizadores e nada democráticos. China e Rússia são dois exemplos óbvios, mas há outros.

Mesmo nos EUA, em tese (eu disse em tese), a sede global da democracia, temos visto ações indiscutíveis de manipulação de informações e deturpações por parte do poder estabelecido em relação à população. A serviço dos poderosos de plantão nas instâncias de poder do País.

Já fui ferrenho defensor da ideia de que a internet é um bastião da diversidade e da já fui ferrenho defensor da udéia de que a internet é um dos pilares da democracia contemporânea. Não consigo mais. E esse pode ser o ponto a prestar atenção no Mandese.

Como editor de uma publicação de mídia, seu viés pega essa correlação pelo viés da comunicação como instrumento comercial de difusão de mensagens. E nesse aspecto, ele também nos alerta que a internet enquanto mídia anda meio que contribuindo para que essa correlação tenha sua dose de senso e pertinência. Ou seja, nossa indústria também está envolvida, de alguma forma, nisso. Fica aqui o alerta.

Há até, digamos, 20 anos atrás, já com a internet, mas sem a internet onipresente e oni-influenciadora que temos hoje, seguíamos adotando premissas histórico-econômico-sociológicas para analisar a evolução das sociedades e suas conquistas.

Mas o fator internet, a primeira e única plataforma global que conecta tudo e todos, introduziu um dado novo nessas colunas de análise e bagunçou os parâmetros acadêmicos clássicos de análises sócio-exonômicas e políticas.

Issosócio-econômico-políticos, em que uma A Aplataforma global se apresenta e age como catalisadora de tudo que se fala e se comunica no Planeta. Isso é novo. E pode, de fato, ser determinante para que as duas estatísticas do Mandese tenham efetivamente relação de causa e efeito.

Fico sempre com um pé atrás diante de conclusões deterministas como essa. O mundo é mais complexo do que uma relação de/para. Mas que ela faz algum sentido, infelizmente, preciso admitir.

 

 

 

 

 

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