Dizem que Deus vê tudo. Em sendo Deus, deve ser por aí mesmo.
No livro 1984, George Orwell criou sua distopia em que um olho-câmera, o estado totalitário, vigia tudo e a todos vê. Um Deus digital. Deus feito máquina de dominação, vigilância e controle.
Virou franquia da Endemol e sucesso há mais de uma década como um programa de TV da Globo, no Brasil.
Mas esse olho que a tudo vê e a tudo vigia, esse Deus ex-Machina – ou Deus surgido da máquina – está hoje entre nós, aqui mesmo e na real, e não em um reality show ou num romance de ficção.
Olhe a sua volta e veja por você mesmo.
Empresas e governos sabem onde você e eu estamos agora. Sabem as mensagens que trocamos nas nossas redes sociais, os ambientes que visitamos na internet, as lojas físicas em que consumimos, os sinais que ultrapassamos nas ruas e nas estradas, quando subimos ou descemos nos elevadores dos nossos condomínios, e se não tomarmos cuidado com o nível de exposição dos nossos celulares, invadem também nossos momentos mais íntimos. Nossa privacidade é que parece ter se tornado uma distopia.
A fantástica tecnologia do reconhecimento facial é usada para a vigilância de cidadãos. Os dados que compõem o nosso digital self são distribuídos por aí sem nosso controle e o olho desse Deus digital olha tudo também em forma de uns e zeros.
Não há nada distópico nisso e o livro de Orwell está sendo reescrito pela realidade, num enredo talvez ainda mais abrangente e complexo. Porque vivamente real.
Não sei se você acredita em Deus. Mas as máquinas acreditam. E seus olhos estão por toda parte. Olhe você mesmo … e veja.