Número está ligado a baixa presença feminina no mercado de tecnologia e nas dificuldades em conseguir investimentos para os seus negócios
A Associação Brasileira de Startups (ABStartups) revelou que dos 12 mil empreendimentos no País, 84,3% são liderados por homens, enquanto só 15,7% tem empreendedoras em seus comandos. Números esses, que tem relação com a baixa presença de mulheres em áreas ligadas à tecnologia já que muitas dessas iniciativas têm na tecnologia a sua vertente mais forte.
Segundo dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD), as mulheres são apenas 20% do total de profissionais na área de tecnologia. O estudo ainda revela que 79% das mulheres, que entram em cursos na área de TI, abandonam a faculdade no primeiro ano.
Para Andrea Miranda, CEO da Standout Brasil, empresa de inteligência em Trade Marketing Digital, as mulheres são pouco incentivadas nas áreas de exatas desde a educação básica. “Eu tenho certeza que com muito mais incentivo, principalmente na educação básica, nós teríamos muito mais mulheres na carreira de exatas, de tecnologia, e qualquer uma das vertentes”, afirma Andrea.
Á frente de uma empresa de tecnologia, Andrea relata que passou por dificuldades pelo fato de ser mulher. “Tive situações, por exemplo, de pedir pra pessoas do meu time irem falar com determinados clientes, porque aquele determinado cliente nitidamente preferia conversar com homem”, lembra.
Mesmo assim a CEO conta que isso não atrapalhou o seu caminho profissional. “Se ele precisa falar com um homem, ele vai falar com um homem, não tenho problema nenhum em relação a isso, mas de outro lado, a gente vai divulgar e vai falar e vai o tempo todo lutar para que isso deixe de acontecer, lutar para que isso seja cada vez mais uma exceção”, afirma.
Outro ponto limitador para as mulheres empreendedoras é no momento de buscar investimentos. Um estudo feito pela empresa de consultoria empresarial norte-americana, Boston Consulting Group (BCG), em 2018, mostrou que em um período de cinco anos as startups criadas por homens receberam US$ 2,12 milhões em investimentos, enquanto as fundadas por mulheres tiveram só US$ 935 mil.
Quando se fala sobre investimentos, Andrea reforça que não sofreu diferença no tratamento com investidores por ser mulher. Entretanto, destaca que esse também é um ambiente predominantemente masculino. “Você vê um número muito pequeno de mulheres participando de grupos de investimento. O que reflete um pouco a própria situação do Brasil, onde o acúmulo de riqueza predominantemente também fica na mão dos homens”, explica.
Um dos fundadores e sócios da Pipeline Capital, Alon Sochaczewski, conta que, durante o seu dia a dia no mundo de tecnologia, tem a clara percepção dessa predominância masculina nos grupos de investimento. E também no empreendedorismo no País. “A gente está no mercado e conversa com muitas empresas na nossa área de pesquisa. E nós não encontramos muitas mulheres empreendendo ainda”, aponta Alon.
Olhando para o futuro, Andrea não enxerga uma mudança rápida nessa disparidade entre homens e mulheres no mercado de tecnologia. “Uma mulher para ela ser uma empreendedora de tecnologia algumas coisas têm que acontecer antes, seja às vezes no critério de formação, ou em experiências adquiridas”, detalha.
O mercado de tecnologia, segundo Andrea, ainda não é favorável para as mulheres. De acordo com ela, a proporção de mulheres na área de tecnologia ainda não chega o suficiente para mudar o cenário atual. “Eu acho que talvez em dez anos, essa moçada que agora está com quinze anos, e que vem com uma cabeça diferente para essa questão de gênero, pode ser a mudança nesse cenário”, analisa Andrea.