(*) João Cruz
1.82 segundos. Um piscar de olhos. Este é o recorde do pit stop para troca de pneus do carro do piloto Max Verstappen alcançado no GP de Interlagos do ano passado pela equipe RBR. Impressionantes menos de 2 segundos. Nos anos 50, quando a categoria dava suas primeiras voltas, os mecânicos levavam, vejam só, mais de 1 minuto.
E aí você me pergunta: como conseguiram baixar tanto tempo ao longo das décadas? É simples. Processo e Automação. O carro de F1 é só a parte mais visível de um complexo sistema que tem por trás milhões de linhas de códigos, muita tecnologia e, acima de tudo, muitos processos.
A aceleração da competitividade e a busca por excelência vem exigindo das empresas foco total na melhoria de processos. A briga por milésimos percentuais de market share está diretamente associada ao tempo de resposta, ao time to market, impondo um senso de urgência em que cada milissegundo pode significar ganhar ou perder a corrida pela liderança.
A Covid-19, claro, colocou mais gasolina na tendência de automatizar o que for possível. A pandemia fez as organizações se darem conta de que não há mais espaço para erros. Não é aceitável, nem tampouco inteligente, desperdiçar capital, tempo, esforços em atividades que podem ser realizadas por softwares e ocupar sem necessidade equipes que estariam disponíveis para atuar em entregas que exigem criatividade, discernimento, capacidade cognitiva.
Em um cenário de crise, são os pequenos detalhes que podem levar um negócio ao pódio ou a amargar as últimas posições entre os retardatários. Na disputa pelo primeiro lugar, emerge e ganha enorme relevância um conjunto de tecnologias que permitem alcançarmos um novo patamar na automação de processos.
O Gartner aponta a Intelligent Process Automation como uma das grandes tendências no universo da tecnologia para 2021. A Automação Inteligente de Processos combina BPM (Business Process Management), RPA (Robotic Process Automation), Machine Learning, Inteligência Artificial e outras tecnologias que farão acontecer a Transformação Digital. Uma outra pesquisa do MarketsandMarkets indica que o mercado de Automação Inteligente de Processos terá um crescimento médio anual de 12,9% entre 2018 e 2023, quando alcançará US$ 13,75 bilhões contra US$ 6,25 bilhões em 2017.
O fortalecimento desta tendência já mostra também impactos no mercado de trabalho. Um estudo da Forrester Consulting realizado com mais de 500 executivos C-level e Diretores de grandes organizações indicou que 73% dos entrevistados darão preferência a profissionais que tenham experiência com automação e ferramentas de Inteligência Artificial, mesmo que a função não exija tais habilidades, e 64% acreditam que ter conhecimento na área pode elevar salários. 48% informaram que irão aumentar investimentos em RPA no próximo ano em 5% ou mais.
A clássica cena de Chaplin apertando parafusos em Tempos Modernos (1936) retrata o avanço da automação industrial, levando às fábricas o conceito de esteira para organização do processo de linha de montagem. Transportada ao universo corporativo, a automação, agora anabolizada por todas estas novas tecnologias, se aproveita de processos já estruturados para colocar na esteira digital tudo aquilo que é entediante e não faz o menor sentido ser executado pela força de trabalho humana, que, além do mais, é suscetível ao conhecido “errar é humano”.
Com o avanço da automação inteligente de processos, o que levava horas, dias e ocupava um grande número de colaboradores agora pode ser feito em segundos, minutos com pouca ou nenhuma intervenção humana, recuperando um tempo valioso para equipe se dedicar a entregas mais estratégias e quem sejam ‘core’.
Aliás, pessoas são o ‘core’ de qualquer negócio. O sucesso da implementação de sistemas de automação para melhorar a produtividade, reduzir custos e aprimorar a experiência do cliente está diretamente ligado ao envolvimento de pessoas em alguma etapa da esteira. Qualquer projeto pode agregar camadas de software e hardware para agilizar a execução de rotinas, mas emoções não podem ser automatizadas. Decisões não binárias também não.
É a integração da inteligência humana com a inteligência artificial, o BPM, o RPA, a Internet das Coisas e outras tecnologias o único caminho para automatizar processos sem tropeços. E então? Vai dar o primeiro passo ou vai esperar seu concorrente te deixar comendo poeira?
(*) Fundador e CEO da Lecom Tecnologia