Há uma idiossincrasia futurística em nós, carinhosa e criativamente nutrida pela ficção científica há décadas, que coletivamente desenha em nossa mente um modelo utópico de robôs-feito-gente, ciborgs humanóides iguais a nós, que se misturariam conosco de tal forma, que muitas vezes nem saberíamos mais que eles, de fato, são robôs. Vide Blade Runner.
Não rola.
Na última CES, a maior feira de gadgets do mundo, fomos colocados – virtualmente é bem verdade, já que este ano o evento, que sempre se realiza ao vivo em Las Vegas, foi integralmente digital – diante da nua e pobre verdade tecnológica atual dos robôs: um amontoado de latas cuti-cuti, que se movimentam toscamente entre nós, sem de fato se constituírem em contribuição prática nenhuma para nossa real vida coidiana.
Os robôs industriais são outra coisa e nem estão nunca na CES. Esses são o campo mais avançado da robótica nos tempos modernos, transformando de fato a capacidade produtiva das fábricas em escala exponencial. Aí sim, temos o estado da arte da robótica que podemos ter hoje.
Mas a robozadadoméstica, que pretensamente deveria fazer o que seus congêneres industriais fazem, ou seja, nos ajudar verdadeira e eficientemente nas nossas tarefas cotidianas em casa, pelamor.
Os robôs mais festejados pela cobertura internacional e que eu pude assistir ao longo da cobertura são estes 3:
Charmin´s RollBot – a piada já começa no nome, mas não para aí. Ele se parece com um ursinho de cartoon, que, juro, tem como função, distribuir papel higiênico na casa para quem precisa. Precisou, ele leva. Sabe-se lá como. Mas vai vendo … robô para papel higiênico.
Ballie Bots– É uma bolinha amarela do tamanho de uma bola de baseball, apresentada pela Samsung, que fica rolando pela casa atrás de seu “dono” avisando-o, como uma Alexa boluda, de suas tarefas cotidianas. Não sei como vivi até aqui sem uma dessas.
BellaBot – Esse carrega pratos. Tá certo que um monte de pratos, tipo 120 pequenos pratos, ou 39 pratos maiores, pra lá e pra cá. Prá restaurantes, quem sabe. Pode ser. Mas não tinha nada mais de fato útil para criar com a mesma tecnologia e os mesmos sistemas de AI?
Falta imaginação nessa indústria. Mas falta, mais ainda, comprometimento com os reais interesses das pessoas em sua vida mais mundana. Com soluções de verdade, não esse monte de baboseira tosca.