A frase do título não é minha, é do Arthur C. Clarke. Mr Clarke foi um dos mais criativos e prolíficos autores de ficção científica da história. Entre outros, escreveu o conto The Sentinel, que deu origem a 2001, Uma Odisséia do Espaço, que por sua vez, foi o precursor de todas as obras do cinema de ficção científica até hoje.
Clarke era também um cientista pesquisador. Portanto, sabia bem o que era ciência e tecnologia. E como autor, conhecia a magia de contar histórias. Daí a frase dele ter o peso de significado que tem.
Tecnologia é o processo e o progresso do conhecimento técnico. Magia é o conjunto de crenças e rituais que supõem ser possível manipular a realidade. Uma coisa, conceitualmente, não tem nada a ver com a outra. Só que, como Clarke nos alerta, tem sim.
Peguemos a Inteligência Artificial, por exemplo. Onde termina a tecnologia e onde começa a magia? Cada vez mais difícil dizer isso hoje. Idem as realidades imersivas, como AR/VR/XR. Magia pura. Ou ainda a computação quântica, que vai permitir que estejamos em dois lugares ao mesmo tempo. Quase magia negra.
O delicioso, brilhante e hilário Luís Fernando Veríssimo costuma dizer que a tecnologia de uma escada rolante ainda o surpreende, como uma magia. Meio que concordo com ele. Imagina o resto.
Essas conjeturas parecem meio bobas e inúteis, mas não são não.
Todas as descobertas que conhecemos vieram do estímulo e vontade do homem de se transformar em magos que reordenam o real ou descobrem como funcionam os mistérios inauditos do conhecimento. Prestidigitar o futuro, retirando-o do fundo da cartola.
O resultado é que as mais novas tecnologias disruptivas estão nos conduzindo cada vez mais à transposição de limites que pouco se diferenciam da mágica.
Se isso é bom ou ruim, veremos. Mas o que parecia encanto de bruxa ou truque de circo virou a nova semântica da ciência. Magia evolutiva. Tecnologia ilusionista. Uma coisa sendo a outra.