“Tudo que é sólido desmancha no ar”, se você não leu, tem que ler, é uma obra do Marshall Berman, filósofo contemporâneo (de esquerda, vou logo avisando), que explica as sociedades contemporâneas e sua evolução através de grandes momentos da história da arte e cultura. O título vem do Manifesto Comunista, de Marx e Engels, e no contexto original da obra dos dois filósofos e economistas alemães, significava que as ordens estabelecidas passam sempre por revoluções recorrentes que transformam tudo, e aquilo que aparentemente parecia tão sólido, desmancha no ar. Sacou?
Bem, Marx e Engels iriam se surpreender com a magnitude que essa máxima atingiu nos tempos modernos, em que a tecnologia atropela o mundo físico e concreto, tão aparentemente sólido, como se fosse uma virtualmente inexistente paredinha de papel.
Para os negócios do mundo sólido – bricks and mortar, diriam os norte-americanos – o desafio é, inevitavelmente, desmancharem-se no ar da interatividade, e, a um só tempo, tornarem essa diluição em sua nova natureza fluida, em que a virtualização de tudo é o novo mandamento.
Tijolos conectados, diria eu, bobósofo contemporâneo.
A conectividade não só é, hoje, a transparente argamassa que molda e une os ambientes digitais, mas é também a sólida interação entre aquilo que, se batermos, chapa o côco, com aquilo que nem vemos, mas está lá, prenhe de uns e zeros, anabolizando hoje todos os negócios que conhecemos.
O fenômeno omnichannel e as lojas que não tem mais paredes, porque começam no físico e terminam no digital, e vice-versa, são a figura mais clássica dessa diluição no ar. Mas, em verdade, não há mais fronteira entre quase nada no mundo dos negócios que ocorra no mundo físico e não esteja coligado a alguma expressão paralela e correspondente no ambiente digital.
A leveza e beleza da frase de Marx e Engels, independentemente da ideologia, contém mais verdades sobre o presente e o futuro das empresas e dos negócios do que eles jamais poderiam imaginar.
Cabe a nós entender que a revolução digital, que não tem nada de marxista, é o novo mandamento das nossas indústrias e dos nossos negócios, de agora em diante. E isso muda todas as formas de gestão e operação que vigoraram com maior ou menor sucesso em toda a História.
Pense nisso. E deixe-se diluir na solidez que não existe mais.