Microleaning: o caminho para se conectar com a Geração Z

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As pesquisas mostram que os nativos digitais querem aprender e evoluir, mas não adianta se aproximar deles com modelos de educação corporativa que não fazem mais sentido para eles, como palestras e treinamentos em grupo

Por Marcos “Rasta” Schestak *

A Geração Z chegou ao mercado de trabalho e já está impactando a cultura organizacional, com reflexos importantes na área de marketing e vendas. Os líderes e gestores dos departamentos comerciais nas empresas enfrentam atualmente um enorme desafio: como treinar e capacitar colaboradores das novas gerações? Afinal, esse público respira tecnologia desde o nascimento e não se entusiasma com as ferramentas tradicionais da educação corporativa, como palestras, treinamentos e workshops, que seguem uma agenda inflexível e exigem que todo mundo vá para uma sala (ou acesse uma videoconferência, como agora, durante a pandemia) em dias e horários previamente marcados? Como pensar métodos que dialoguem com a fluidez e a flexibilidade dos tempos atuais, engajem os nativos digitais e resultem em equipes mais preparadas para atender o consumidor e gerar resultados?

Está claro que é preciso rever as estratégias de capacitação desse público, porque tudo o que a Geração Z – que compreende os nascidos entre 1995 e 2010, segundo algumas classificações – mais detesta é ficar parada ouvindo alguém falar por uma ou mais horas sobre o que ela tem de fazer ou como trabalhar. Isso não funciona mais não só com a Geração Z, mas também com os Millennials (1980-1994), igualmente moldados pela cultura da tecnologia, da velocidade e do excesso de informações.

Para virar a chave, o caminho é entender o comportamento dessa geração e se conectar com ela. Diversas experiências dentro e fora do Brasil indicam que a solução está na intersecção entre a tecnologia e o desenvolvimento de uma nova cultura de aprendizagem nas organizações. Essa nova cultura deve estar alinhada ao zeitgeist atual, que exalta a flexibilidade, a mobilidade e a liberdade para aprender no momento em que for mais conveniente.

Geração hiperconectada

A Pesquisa Geração Z no Mercado de Trabalho, da plataforma Gente – projeto da Globo sobre tendências em hábitos e comportamentos –, é um bom instrumento para conhecermos melhor esse grupo, que já seria responsável por cerca 20% dos postos de trabalho em 2020. “Para quem convive com um Z, não será surpresa descobrir que essa letra remete à palavra ‘zap’, comumente associada à agilidade, rapidez e energia”, diz o estudo. “Trata-se de uma geração hiperconectada, também conhecida como a geração dos smartphones.”

O estudo mostra que a oportunidade de desenvolvimento é o item mais importante para os Zs na hora de escolher uma empresa para trabalhar (34%), à frente da questão salarial (28%). Para 96% deles, o bom líder é aquele que busca o desenvolvimento de sua equipe e compartilha conhecimento.

Os jovens da Geração Z são aprendizes velozes, e muito disso tem a ver com sua relação umbilical com a tecnologia, que passa pela aprendizagem multicanal. “Eles têm a oportunidade de aprender em diferentes frentes e modalidades – uma pessoa pode aprender melhor assistindo a vídeos do que escrevendo ou lendo.”

Esses dados todos demonstram que a Geração Z quer aprender e evoluir, mas não adianta se aproximar dela com modelos que não fazem mais sentido hoje.

Microlearning como tendência

É nesse contexto que o microlearning surge como tendência. Estamos falando de uma nova abordagem educacional orientada por pequenas unidades de aprendizagem consumidas num curto espaço de tempo. São pílulas de conteúdo multiformatos (vídeos, games, textos e podcasts), organizados em jornadas de aprendizagem que podem ser acessadas a qualquer momento e por diferentes devices – pelo celular durante o trajeto no ônibus ou metrô, por exemplo.

O microleaning é um modo diferente de ensinar e aprender que deve ser estruturado a partir de objetivos claros e previamente estabelecidos. Pense numa rede varejista que precisa treinar sua equipe para a comercialização de uma nova linha de eletroeletrônicos. Essa abordagem surge como uma ótima ferramenta para capacitar a Geração Z em relação aos novos produtos, assim como desenvolver habilidades de vendas ou atendimento. E um ponto importante: todo o processo tem métricas para mensurar o aprendizado do colaborador.

Trilhas de aprendizagem

Um programa de microlearning deve ser pensado como uma trilha de aprendizagem moderna e flexível, com jornadas gamificadas. E os estudos comprovam a eficácia dessa metodologia. Segundo uma pesquisa veiculada pelo Journal of Applied Psychology, publicação da American Physiological Society, o microlearning apresenta como vantagens o fato de ser 17% mais eficaz que os métodos tradicionais (e-learning), facilita a retenção de informação e possibilita uma maior compreensão sobre o que é ensinado. Além disso, seu formato e linguagem se mostram mais adequados aos novos hábitos de consumo de informação na era digital, especialmente por parte dos Zs e dos Millennials, que, juntos, já representam cerca de metade da força global de trabalho, segundo estimativas da Forrester.

Por suas características, o microlearning é uma boa resposta para aquilo que muitos especialistas em desenvolvimento humano defendem: que o aprendizado se encaixe naturalmente no fluxo de trabalho diário, distribuída em pequenas doses que podem ser acessadas quando, onde e como a pessoa quiser – isso é a cara da Geração Z, não? Com objetivos bem definidos, essa nova metodologia pode trazer benefícios concretos para as empresas, como o desenvolvimento de habilidades de atendimento, vendas e negociação, melhorando assim o desempenho profissional e, claro, aumentando as vendas ao final de todo o processo de aprendizagem.

  • CEO e fundador da BASE Digital e da Grano

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