Bruna Rodrigues: O backstage dos influencers

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O ano era 2000. O primeiro Big Brother estreava na TV e a gente não fazia ideia de que alguns anos depois essa narrativa da vida real ia sacudir a internet, as nossas vidas, e ser o que é hoje: uma das maiores locomotivas do entretenimento, capaz de movimentar comunidades gigantescas no online, as verbas de marketing, e levar os participantes que entram nos programas direto para a fama da noite para o dia. Isso mesmo, hoje em dia quem entra em um reality, precisa estar pronto para transmitir uma imagem, escolher um papel social para representar, e sair de lá pronto para essa imagem ser monetizada.

Mas esse não é mais um texto sobre realities. A ideia aqui é trazer uma reflexão sobre a nova função que surgiu desde o ano passado – à luz da participante e vencedora Juliette Freire e seus 21 ADMs na última edição do BBB e mesmo da pandemia – que nos deixou em casa precisando reinventar as maneiras de produzir e consumir conteúdo. Os ADMs – como são denominados os profissionais responsáveis pelas contas dos participantes que vão para os realities – atuam quase como ‘bombeiros’, gerenciando as crises nas redes sociais, mas também fomentando o amor das comunidades pelos seus perfis (que estão lá dentro do programa para aproveitar a visibilidade de três meses e, quem sabe, sair de lá com uma nova carreira aqui fora).

Esse ano, também houve a experiência por meio do casal Georgia e Thiago, que participou da quarta edição do Power Couple Brasil, da Rede Record. Aqui, é uma mistura de reality show, casais famosos, tretas, apostas e provas malucas. O casal foi até a semifinal do programa e teve sua intimidade e suas histórias com os outros participantes narradas por seus ADMs. Foram quase 100 dias de acompanhamento diário de tudo que era falado sobre eles na casa e nas redes, muitos mutirões e gerenciamento de imagem para que os valores do casal fossem expostos da melhor forma aqui do lado de fora do programa.

Mas quais são as necessidades que embasam esse gerenciamento de perfis sociais, quando os seus donos estão confinados em uma casa, tendo a sua vida e as suas ações sendo veiculadas por 24 horas para todo o Brasil? São vários aprendizados.

Entre os principais, destaco o clamor dos fãs por signos visuais para chamarem de seus, especialmente a criação de hashtags e “packs” para cada rede social (especialmente o Twitter), criando a própria marca pessoal do casal. Com isso, ficou evidente o valor do pertencimento para quem escolhe a comunidade que vai torcer aqui fora. Isso faz toda a diferença.

Narrar o pay-per-view para os espectadores de reality que acompanham tudo pela internet é um outro recurso que traz um peso. É nesse second screen que acontecem os debates sobre as ações dos personagens dentro da casa. E narrar essas atividades reforça o posicionamento e traços da personalidade, que são cruciais na hora do público defender ou eliminar cada participante.

Fazer mutirão e alianças entre torcidas para influenciar no desempenho do jogo também ajuda a aproximar participantes e formar alianças com as outras torcidas. Essa diplomacia na internet é fundamental para ampliar os espaços de exposição e auxiliar a recolher mais votos entre os simpatizantes que estão vendo e apoiando as amizades que se formam dentro da casa.

Lidar com crises de imagem e posicionar-se para proteger as crenças e ideologias, abrindo debates saudáveis sobre a repercussão do programa, além de criar uma grande roda de diálogo.

Explorar a arte, a música e o entretenimento foram as paixões que moveram todos os fãs que acompanhavam o casal. E, claro, complementando o conteúdo pessoal e a repercussão do programa, foram criados e produzidos conteúdos que reforçaram as áreas de atuação da Georgia e do Thiago.

Por fim, é preciso que o ADM esteja atento que um posicionamento pode durar menos que 30 segundos, entretanto é necessário também estar preparado para mudar de opinião. Afinal, assim como na vida real, as pessoas mudam de ideia, brigam, reconciliam, amadurecem e se transformam diante dos acontecimentos externos. E num reality não é diferente. O cérebro humano tem a sua complexidade (principalmente quando se trata de responder a emoções) e precisamos estar preparados para respeitar isso aqui fora.

Trata-se de um mercado que tende a se manter aquecido, mesmo em uma nova realidade pós-pandêmica, em que a demanda pela produção de conteúdo continuará diante dos modelos híbridos de interação dos consumidores com as marcas. No fim das contas, as marcas e os consumidores têm se dado conta de que as narrativas verdadeiras é que estimulam o interesse das pessoas. E este é um trabalho minucioso de relacionamento e cocriação.

* Bruna Rodrigues é diretora de Operações da Brooke, produtora de conteúdo digital que integra o Grupo Stefanini.

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