A morte da propaganda como a conhecíamos. Ufa, demorô!

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Certa vez, anos atrás, fiz uma matéria cujo título era mais ou menos assim … “A Agênciaclick morreu. Que bom”.

 

Seus dois sócios fundadores, Pedro Cabral e Abel Reis, fundadores da Click, me mandaram comoventes mensagens de parabéns pelo texto. 

 

Mas como assim?

 

Bom, então como agora, precisamos entender de uma vez por todas que transformações são inevitáveis e deveriam ser bem-vindas, não rechaçadas. O Pedro e o Abel sempre souberam disso e entenderam que o meu texto falava sobre superação e que naquele momento nascia uma nova Click, mais pronta para os novos tempos.

 

Tempos depois, já sob o comando do Abel, na entrada da Click, adquirida pelo grupo DAN, lia-se… “uma agência que constrói sua própria obsolescência”.

 

Brilhante!

 

Pois agora leiam este outro título: “David Droga transformou a propaganda. Agora ele quer matá-la.”

 

É da excelente matéria da Fast Company sobre as mais recentes transformações que um dos mais relevantes e renomados publicitários das últimas duas décadas está fazendo na Accenture Interactive, que comprou sua Droga5. Droga está aproximando consultoria e criatividade publicitária como possivelmente nunca ninguém fez antes.

 

Mas ó … o título da reportagem poderia ser também algo como… “David Droga transformou a propaganda. Agora vai fazer o mesmo com as consultorias”.

 

Não acho que Droga queria matar a propaganda. Ele – como ela a si mesma – quer transformá-la num bicho menos neanderthal e mais com a cara dos cyber-humanos em que estamos nos transformando.

 

A matéria da Fast Company lembra como ele, em 2006, iniciou sua aparição para a indústria e para o mundo, neste parágrafo: “Quando a agência de publicidade Droga5 criou o “Still Free” de Marc Ecko, criou um precedente para a próxima década de como as marcas poderiam tentar explorar e criar cultura. Não pagando milhões por um anúncio do Super Bowl, mas usando entretenimento criativo para manipular e alavancar o ecossistema de mídia. Você sabe quanto a Ecko e a Droga5 gastaram em anúncios de TV? Zero.”

 

Agora afastemos a câmera alguns mil pés acima de nossas cabeças e olhemos o big picture.

Das dez maiores agências dos EUA, 4 são “consultorias”. Vamos lá: WPP, Omnicom, Publicis, Accenture, Interpublic, Dentsu, Deloitte, PwC, IBM e Blue Focus (esta última uma espécie de WPP chinês).

 

Independentemente do movimento da Accenture e de Droga, o que estamos vendo é o rompimento dessas barreiras todas. Grupos novos começam a surgir em que a pegada consultiva se mistura com a, ainda, boa e eficiente publicidade, desde que atualizada para os tempos em que vivemos.

 

As grandes holdings do mundo da propaganda estão rompendo, finalmente, a barreira dos dados, da inteligência artificial aplicada ao marketing, do e commerce e das atividades omnichannel, ou seja, fazendo coisas que nunca imaginaram fazer. Só que precisam fazer e estão, de fato agora, fazendo.

 

Grupos como S4 e BrandTech (ex-You & Mr Jones) criam cada um seu modelo próprio de oferecer diferenciação, incorporando também disciplinas em nada parecidas com a da antiga propaganda como a conhecemos.

 

O modelo in-house cresce e ganha proporções desconhecidas entre nós na indústria (e aí a Oliver, do grupo BrandTech, leva a indiscutível vantagem do pioneirismo e de sua proposta única). De novo, diferenciação e mistura de fronteiras antes rígidas, hoje fluídas.

 

O movimento de David Droga, vamos ver, deverá ser apenas mais um capítulo em que tudo se mistura para dar formatos diversificados e cada vez mais ricos aos anunciantes.

 

Vejo tudo isso como algo que demorou para acontecer, mas que finalmente acontece. E que não era só indispensável que acontecesse, como é possivelmente a mais rica, interessante, entusiasmante e desafiadora transformação pela qual a indústria de marketing e comunicação jamais passou. 

 

Morrer é renascer. 

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