Há uma estatística generalista no mundo do empreendedorismo e dos investimentos segundo a qual cerca de 95% das startups morrem antes de virarem alguma coisa.
Cruel estatística, cruel destino para essas que são hoje, possivelmente, o maior motor propulsor da inovação no Planeta.
Tá certo isso, Arnaldo?
Tá não.
Startups não são ilhas. São parte viral e vital hoje no avanço dos sistemas econômicos das Nações, responsáveis diretas por um sem número de melhorias das sociedades e pela contemporânea disrupção evolutiva das empresas.
São também parte motriz de um ecossistema mais amplo, que contém entidades e associações, órgãos fomentadores do Estado, além, é claro, de toda uma complexa cadeia de investidores, que vão dos anjos e do capital early stage, aos poderosos fundos de private equity, incluindo ainda aí as corporate ventures, iniciativa das corps nascida da percepção óbvia nos dias que correm de que não investir em startups é uma baita duma burrice.
No Brasil e para o caso do Brasil, essa alta taxa de mortalidade e a baixa formação empreendedora da base etária da cadeia, crianças e jovens, e a desestruturada cadeia de fomento ao empreendedorismo para os estratos mais carentes da pirâmide, ou seja, a maior parte do País, é duplamente cruel. Porque 95% de mortalidade de startups em países avançados, em que a cultura do empreendedorismo está em toda parte, tem um impacto. A renovação é gigantesca, os volumes de novos empreendimentos enormes, a sociedade como um todo é melhor e mais sofisticadamente estruturada, o ensino é onipresente. Num País como o nosso, esse índice é cruel, porque é sobre uma base gigantescamente menor e concentrada em estratos melhor situados na cadeia social.
Não é necessário entender que se mais startups dessem certo, que teríamos melhores empresas futuras.
Não cabe paternalismo numa atividade econômica que é movida pela busca insana e incessante da excelência, da inovação e da disrupção. As taxas de mortalidade em um ambiente assim tenderão sempre a ser altas.
É duro assim, mas é assim e faz parte. Mas de novo, o Brasil sofre por não investir em si mesmo para o fomento de um sistema que é a base do seu próprio futuro econômico e de negócios. Para além de ser berço do seu próprio avanço e desenvolvimento mais sofisticado e diferenciado enquanto Nação.
Fomentos para otimização do sistema são feitos, em parte, pelos investidores anjo, em parte pelas aceleradoras, em parte por algumas entidades, em parte através de honrosas iniciativas como Endeavor e Startse, para citar duas, em parte por algumas empresas, que criam labs e centros de estudo para startups e, ainda, bem pouco, mas enfim, para tentar não ser injusto aqui, também pela academia. Devo ter esquecido alguém. Se esqueci, desculpa.
O topo da cadeia de investimentos, salva raras e honrosas exceções, talvez invista menos do que poderia para contribuir para a otimização do sistema como um todo. Mas isso é um pedaço.
O outro pedaço deverá possivelmente vir da associação da iniciativa privada, juntamente com o Estado e a Academia. Uma aliança nem sempre viável e fácil de construir em países em que esses elos nem sempre se entrelaçam harmoniosamente.
Assim, entendo que deveria ser o próprio ecossistema primário de funding e empreendedorismo que deveria buscar otimizar ainda mais sua contribuição.
Já que o Brasil não investe em si, investimos nós.
O que já se faz é ótimo. Mas é possível que, se cada parte do sistema fizer ainda mais, e os que nada fazem fizessem ao menos um pouco, certamente otimizaríamos a performance da cadeia em geral.
Ganharíamos empreendedores mais qualificados e startups potencialmente melhores. E o País, bem, o País passaria a investir mais em si, para a melhoria de si mesmo.